Fazendo perguntas melhoradas

Introdução

Como locutores.as e produtores.as, fazemos muitas perguntas todos os dias. É dessa forma que obtemos a informação necessária para fazer os nossos guiões, os nossos programas, e os nossos relatórios. Normalmente fazemos estas perguntas no contexto de uma entrevista (saiba mais sobre como construir e realizar uma entrevista bem sucedida aqui). Muitas vezes, com pressa para obter a informação que desejamos, ou porque temos uma noção preconcebida do que queremos ou esperamos que o.a nosso.a entrevistado.a diga, fazemos as chamadas “perguntas conducentes”. Estas são perguntas que podem dificultar a resposta aberta e honesta de um.a entrevistado.a, porque implicitamente pedem à pessoa que responda de uma determinada forma. Para respeitar os.as seus.suas entrevistados.as e ouvintes, é importante fazer perguntas melhoradas, perguntas que não levem o.a entrevistado.a a dar uma resposta apenas porque acredita que o.a entrevistador.a quer ou espera ouvi-la.

 

O que queremos dizer com “perguntas melhoradas”?

 

As questões melhoradas são neutras, imparciais e abertas. Ajudam um.a entrevistado.a a contar a sua história, dando informações claras, nas suas próprias palavras, sem serem influenciados pelo.a entrevistador.a.

As perguntas melhoradas substituem as perguntas conducentes. As perguntas conducentes dão indicações ao.à entrevistado.a sobre como se espera que responda. Elas “conduzem” o.a entrevistado.a ao que o.a entrevistador.a quer ou espera ouvir.

Perguntas melhoradas recebem respostas melhores—mais abertas, honestas e surpreendentes.

 

Como é que fazer perguntas melhoradas me pode ajudar a servir melhor aos meus ouvintes e minhas ouvintes?

 

  • Fazer perguntas melhoradas aumenta as chances de os entrevistados e entrevistadas darem, e ouvintes ouvirem, respostas úteis - respostas suficientemente detalhadas e sobre o tema.
  • Diminui as chances de os entrevistados e entrevistadas poderem fugir de assuntos que prefeririam evitar.
  • Ajuda a garantir que os ouvintes e as ouvintes possam compreender melhor o que um entrevistado ou entrevistada acredita e sente
  • Ajuda a manter o elemento de surpresa numa entrevista, tornando-a mais interessante de se ouvir. As perguntas conducentes encorajam respostas específicas.
  • Pode aumentar, através de perguntas de seguimento, a quantidade de detalhes nas respostas.
  • É mais honesto e, portanto, mais válido do ponto de vista jornalístico.

 

Como é que fazer perguntas melhoradas me pode ajudar a produzir programas melhores?

 

  • Aprender a disciplina de fazer perguntas melhoradas permite que a curiosidade, a pedra angular do bom jornalismo, seja a força motriz de cada entrevista.
  • É mais honesto porque retira as próprias crenças e expectativas do jornalista das perguntas.
  • Evita o aparecimento de preconceitos no programa.
  • Ajuda o.a jornalista a compreender qual é a história, não o que ele ou ela pensava que a história era.

 

Como é que eu começo? (Saiba mais sobre estes e outros pontos na secção Detalhes abaixo).

 

  1. Planeie a sua entrevista.
  2. Esteja atento ou atenta aos diferentes tipos de questões e à sua finalidade.
  3. Escreva as suas perguntas, evitando perguntas conducentes.
  4. Prepare perguntas que sejam específicas, com base na sua investigação.
  5. Prepare diferentes tipos de perguntas.
  6. Esteja preparado ou preparada para fazer boas perguntas de seguimento.

 

Detalhes

1. Planeie a sua entrevista.

 

É sempre importante planear as suas entrevistas. Em primeiro lugar, claramente, é necessário encontrar a pessoa certa para abordar o assunto ou a experiência que está a explorar. Essa pessoa tem os conhecimentos e a experiência necessários. Depois de ter seleccionado a pessoa adequada, determine o que quer aprender dela. Saber exactamente o que se quer descobrir é útil na criação de perguntas melhoradas.

É também importante fazer a sua investigação sobre o tema. Quanto mais souber sobre o assunto e sobre a pessoa entrevistada, melhor serão as suas perguntas.

A Neema é uma pequena agricultora com o seu marido Godfrey e os seus dois filhos. Eles vivem num hectare e meio de terra na região seca de Dodoma, na Tanzânia. Eles cultivam milho, juntamente com um pouco de mandioca e batata-doce. A família consegue se alimentar e ganhar uma pequena quantia de dinheiro. Mas um extensionista disse-lhes que estão a perder uma grande parte do que cultivam. Ele disse a Neema que até 20% do seu milho é perdido todos os anos devido a más técnicas de colheita e armazenamento inadequado. Os danos causados pelos insectos são frequentes e dispendiosos. Ele sugeriu que, juntamente com outros agricultores vizinhos, Neema e Godfrey aprendessem mais sobre técnicas melhoradas para colheita e armazenamento. Neema quer, mas o seu marido desconfia de novos métodos, preferindo cultivar como os seus vizinhos. Ele está preocupado em destacar-se ou ser ridicularizado.

Neste cenário, uma entrevista com Neema exploraria as suas técnicas actuais de colheita e armazenamento e descobriria porque é que o seu marido, como muitos outros na sua região, está relutante em experimentar novos métodos. Este pode ser um assunto delicado porque na casa da Neema, o seu marido toma geralmente as decisões. Tentar convencê-lo a mudar a forma como eles cultivam pode significar uma mudança na forma como as decisões são tomadas. Numa situação como esta, é importante certificar-se de que a Neema sabe que as questões podem ir além da agricultura e tocar na forma como tomam as suas decisões agrícolas, e certificar-se de que a Neema está disposta a responder a estas questões. O plano seria visitá-la na sua machamba e realizar a entrevista no exterior perto dos sacos de milho da colheita mais recente. A entrevista começaria com uma descrição de onde ela se encontra, o sucesso da colheita deste ano, como ela e Godfrey colheram o milho, como estão a armazená-lo, e se considerariam mudar os seus métodos para reduzir as perdas. Neste momento, você pode fazer perguntas sobre a dinâmica familiar. Você sabe pela conversa com o oficial de extensão na sua investigação, que estes dois agricultores podem perder uma quantidade significativa de milho na colheita, armazenamento e transporte do milho, e, portanto, uma quantidade significativa de dinheiro.

2. Conheça os diferentes tipos de questões e à sua finalidade.

 

Um dos maiores obstáculos para fazer perguntas melhoradas é a pergunta conducente.

As perguntas conducentes podem levar-lhe mais rapidamente ao seu ponto porque você estará a levar a pessoa entrevistada até lá. Mas esse é o problema. É ao seu ponto que está a levar-lhe. Não é ao ponto da pessoa entrevistada.

Definição de pergunta conducente: Uma pergunta conducente é uma pergunta que encoraja uma resposta específica, muitas vezes uma resposta desejada ou esperada pelo entrevistador ou entrevistadora. As perguntas conducentes são muitas vezes conducentes devido à forma como a pergunta é formulada. Por vezes, as perguntas conducentes podem incluir a resposta desejada na sua própria formulação. Por exemplo,

Neema, vejo que colheste o teu milho mas parece que tiveste um ano pobre. Não houve chuva suficiente?

Na verdade, Neema teve um ano muito bom. Ela apenas tem um espaço limitado para cultivar milho. Mas a questão torna difícil que ela explique isso. A pessoa entrevistadora fez uma declaração primeiro e a Neema pode considerar rude contradizê-la. A verdadeira pergunta não era sobre o rendimento, mas sim sobre a precipitação. Uma pergunta melhor seria:

Neema, como foi o seu rendimento de milho este ano?

A Neema pode responder a isso facilmente. O seu rendimento estava acima da média. Como a entrevista está a decorrer ao lado dos sacos de milho, Neema pode até apontar para eles e descrever a sua colheita. As descrições de um áudio podem criar imagens visuais fortes para quem ouve.

Uma pergunta complementar sobre a colheita poderia ser:

Que factores afectaram o rendimento?

A Neema sabe melhor do que quem faz entrevista sobre quanta chuva caiu e se houve outras razões para uma boa colheita. Ela pode falar muito sobre a sua própria experiência sem sentir que precisa de se concentrar no tempo. A natureza aberta do “Que factores ...?” dá a Neema a liberdade de falar sobre as questões mais importantes com que se depara. As perguntas de seguimento seriam baseadas na forma como ela responde.

Outra forma de compreender as perguntas conducentes é dizer que elas são conducentes porque são perguntas predisponentes, sondagens conducentes, ou perguntas carregadas.

Perguntas predisponentes: Estas são perguntas que tornam a pessoa entrevistada mais culpável ou inclinada a dar uma resposta em particular, especialmente se essa resposta for vista pela pessoa entrevistadora como desejável.

Neema, você utiliza sementes de milho melhoradas?

A questão parece neutra e não conducente, no início. Mas poderia predispor, ou posto de outra forma, dar um empurrão à Neema para dizer sim, porque ela pensa que a utilização de variedades melhoradas é considerada uma boa coisa - ou é algo pelo que o projecto da pessoa entrevistadora está a se esforçar. É importante lembrar que, em geral, as pessoas entrevistadas tendem a querer dar respostas que agradam à pessoa entrevistadora e respostas que lhe fazem parecer bem. Uma pergunta melhor a fazer é:

Que tipo de sementes você usa, Neema?

Assim, para evitar fazer perguntas predisponentes, tenha o cuidado de fazer perguntas que a) não contenham palavras que sugiram uma resposta socialmente desejável, e b) sejam o mais gerais possível, ao mesmo tempo que ainda lhe deem a informação de que precisa.

Aqui está outro exemplo de uma pergunta predisponente, e uma pergunta alternativa melhorada.

Você é a favor da adopção de técnicas de colheita novas e eficazes para reduzir a perda de colheitas que alguns agricultores nesta área utilizam?

As palavras “favor” e “eficaz” apontam a Neema para a resposta socialmente desejável, quer ela esteja a favor ou não das técnicas. Substitua essa pergunta por estas perguntas neutras e abertas que lhe permitem responder de forma mais honesta.

Por acaso sabe se sofreu perdas de colheitas, quer antes ou depois da colheita?

Quais são, na sua opinião, as razões para tal?

O que você acha das diferentes técnicas de colheita que alguns agricultores estão a tentar?

Ao evitar perguntas predisponentes, você pode acabar por fazer mais perguntas, mas são perguntas às quais a Neema pode responder com base na sua experiência de vida. Ela é a especialista aqui, não a pessoa entrevistadora. As perguntas abertas dão a ela a oportunidade de partilhar os seus conhecimentos.

O uso da palavra “acaso” nessa primeira pergunta é uma escolha interessante. Os investigadores sugerem que a utilização dessa palavra, tal como em “Por acaso sabe se ...” implica que não se espera que a Neema dê uma resposta positiva. Não usar a palavra “acaso” elimina essa expectativa, deixando a Neema livre para falar a partir da sua experiência.

Sondagens conducentes: As sondagens são utilizadas para aprofundar um pouco mais a resposta ou declaração de uma pessoa entrevistada. São muito úteis e apropriadas numa entrevista, mas as sondagens conducentes não. Elas orientam subtilmente (ou não tão subtilmente) uma pessoa entrevistada a responder de uma certa forma, na essência “colocar palavras na boca da pessoa entrevistada”. Por exemplo, aqui está uma pergunta de sondagem para Neema.

“Está a dizer que as novas opções de armazenamento apresentadas pelo extensionista não funcionam?”

A Neema disse à pessoa entrevistadora que armazenar o seu milho em sacos, da forma como sempre o fez, era melhor para ela e o Godfrey. A pessoa entrevistadora seguiu com a sondagem para esclarecer o que ela queria dizer, neste caso uma sondagem conducente. A sondagem sugere uma ideia que pode não ter estado originalmente na mente da pessoa entrevistada. É também agressiva e talvez coloca a Neema na posição desconfortável de afirmar que ela é mais inteligente do que o extensionista especialista.

Em vez disso, a sondagem deve ser aberta, por exemplo:

O que é que isso significa? Ou - Pode explicar por favor?

Perguntas carregadas: Uma pergunta carregada implica que algum facto é verdade, mesmo que a sua veracidade não tenha sido estabelecida. A resposta a este tipo de perguntas coloca o respondente num dilema. Vejamos, por exemplo, esta pergunta colocada ao Neema:

Acha que o extensionista estava a mentir quando lhe disse que você estava a perder 20% da sua colheita?

A palavra “mentir” é uma palavra muito forte. Ela carrega a questão sugerindo implicitamente que o extensionista é, de facto, um mentiroso. É uma pergunta injusta de se fazer a Neema, pois ela não teria ideia do motivo do homem. Pode levar a uma resposta falsa ou tendenciosa. É também injusta para com o extensionista.

Uma forma melhor de colocar essa questão é:

O que pensa da declaração do extensionista quando disse que você está a perder 20% do seu milho antes de este chegar ao mercado?

A Neema pode dizer-lhe se, na sua experiência, essa é uma boa estimativa. É a história dela, a experiência dela, que você procura.

3. Escreva as suas perguntas - evitando as perguntas conducentes

 

As perguntas não-conducentes são perguntas abertas que eliminam o preconceito ou expectativa de quem faz a entrevista. São concebidas para dar às pessoas entrevistadas a liberdade de responder da forma que quiserem. As perguntas não-conducentes mais eficazes levam a discussões que muitas vezes revelam percepções e ideias que a pessoa entrevistadora pode nunca ter considerado. Nas perguntas não-conducentes, a pessoa entrevistada não é obrigada a concordar ou discordar com quem faz a entrevista, nem é influenciada pelas sugestões do entrevistador.

Aqui vai um exemplo de uma linha de questionário que consiste em perguntas abertas que o a pessoa entrevistadora deveria ter usado com a Neema.

Pode descrever como é a sua machamba?

Como foi o seu rendimento de milho este ano?

Que factores afectaram o rendimento?

Que tipo de sementes você usa, Neema?

Como é que se saíram?

Descreva-me como você e Godfrey plantam e colhem o milho.

Como é que você e o Godfrey tomam as vossas decisões agrícolas?

É importante para si que trabalhem como uma equipa?

Você sabe se sofreram algumas perdas da produção durante a colheita?

Quais são, na sua opinião, as razões para tal?

O que você acha das diferentes técnicas de colheita que alguns agricultores estão a tentar?

Porque você escolheu armazenar o seu milho em sacos?

Como aprendeu a armazenar dessa forma?

De que outros métodos de armazenamento você já ouviu falar?

Quais são os benefícios ou problemas com cada sistema tal como o entende?

Quais são os seus planos futuros para a colheita e armazenamento?

Estas são todas perguntas abertas e são um bom começo para a sua linha de questionário. Mas há outras coisas a considerar ao criar perguntas melhoradas.

4. Prepare perguntas que sejam específicas, com base na sua investigação.

 

Não generalize demais. Seja específico.a. Por exemplo, não faça uma pergunta como esta,

“Qual é a melhor maneira de lidar com os problemas de pragas no milho?”

Há muitos tipos de pragas que danificam as plantas de milho e o milho armazenado. Portanto, de facto, a resposta mais verdadeira a essa pergunta seria: “Depende”. Portanto, certifique-se de que a sua pergunta é específica, por exemplo:

“Qual é a melhor maneira de lidar com a lagarta-do-cartucho-do-milho seis semanas após a plantação?”

“O que fazer para evitar besouros na sua colheita de milho?”

Nunca use as palavras “recomendado” ou “próprio” numa pergunta. Por exemplo,

"Utiliza o silo metálico recomendado para armazenar o seu milho?"

O problema de formular a sua pergunta desta forma é que algumas pessoas que não utilizam a opção de armazenamento recomendada provavelmente dirão que sim, ou que planejam fazê-lo, porque não querem apresentar-se como os errados. Além disso, a Neema pode acreditar que está a fazer o que foi recomendado, enquanto não compreendeu totalmente o processo recomendado. A entrevistadora ou entrevistador tem de ter o cuidado de não assumir que haja conhecimento. As perguntas abertas reduzem o risco de suposições.

Devido à sua pesquisa, estará ciente de diferentes formas de lidar com um problema específico, por exemplo, um problema de praga ou um problema de fertilidade do solo ou de colheita. A utilização de exemplos específicos irá trazer-lhe respostas específicas.

O que pensa da ideia de agricultores e agricultoras da sua área se juntarem para comprar uma única ceifeira mecânica que todos poderiam utilizar em turnos?

Ser específico.a sobre o que se quer saber ajuda as pessoas entrevistadas como Neema a responder melhor à pergunta, porque ela sabe exactamente o que se quer. Isso fornecerá também ao seu público informações melhores e mais específicas.

5. Prepare diferentes tipos de perguntas

 

Cada entrevista precisa de uma mistura apropriada de 1) perguntas de obtenção de informação, e 2) perguntas que realcem o carácter ou personalidade e emoções da pessoa entrevistada. (Note-se que, embora seja importante fazer ambos os tipos de perguntas, na prática, as perguntas individuais irão frequentemente produzir tanto informação como carácter/personalidade/emoções).

Até agora, a maior parte das nossas perguntas de exemplo têm sido de busca de factos. Perguntamos à Neema sobre o seu cultivo, técnicas de colheita e opções de armazenamento. Mas não sabemos muito sobre quem ela é como pessoa, como esposa, como mãe e como empreendedora. Não sabemos sobre as suas esperanças, sonhos e medos.

Agora, para ter a certeza, podemos não precisar muito disso para o nosso programa. Mas os.as locutores.as de longa data irão lhe dizer que os.as seus.suas ouvintes ouvirão com mais atenção as pessoas com quem se podem relacionar emocionalmente. Tornam-se próximos.as e amigos.as e muitas vezes tornam-se modelos, partilhando aspectos em comum, neste caso, da agricultura. Estes modelos têm de reflectir a comunidade de onde a pessoa provem.

As perguntas que você faz, como se observa nas perguntas da amostra acima, ajudam a entrevistada a contar a sua história. Juntamente com as perguntas que ajudam o público a identificar-se e a ter empatia pela entrevistada (onde vive, quem faz parte da sua família, qual é a dimensão da sua machamba, que culturas cultiva, as suas esperanças e sonhos), é necessário que ela explique os obstáculos ou problemas que enfrenta. Estes são familiares para muitas pessoas da sua audiência.

A seguir está uma forma de pensar sobre a estrutura do resto da entrevista e os tipos de perguntas a fazer. Isto é muitas vezes descrita como um arco narrativo, rescendo até um clímax. O clímax surge quando a pessoa entrevistada explica como o problema foi resolvido. Certifique-se de que as suas perguntas são abertas, encoraje descrições detalhadas, e ajude a entrevistada a contar a sua história numa ordem lógica.

Aqui estão os pontos de foco para as suas perguntas.

  • Que práticas eles tentaram para resolver o problema,
  • Como e porquê algumas coisas não funcionaram,
  • Quais eram os riscos envolvidos,
  • Que opções tinham,
  • Que escolhas fizeram e porque as fizeram,
  • Em que momento sentiram que tinham encontrado uma solução para o seu problema,
  • Quem ajudou-lhes, e
  • Como a sua situação mudou, assim como a situação da sua família e comunidade.

À medida que a história se desenrola, é útil para o público saber o que a pessoa entrevistada sente sobre o que está a acontecer. Faça perguntas que revelem isso. Tipicamente, tais perguntas começam com “Como se sente sobre ...”. Mas existem outras formas. Tenha cuidado, no entanto, em não fazer perguntas conducentes a emoções como, por exemplo:

Deve ter ficado zangado.a quando ...

ou

Quão feliz você ficou quando ...?

Além disso, algumas pessoas entrevistas podem estar relutantes em falar de si próprias e dos seus sentimentos. Você precisará de construir confiança com ela antes de chegarem a perguntas que exploram emoções.

Aqui estão algumas perguntas para Neema que procuram mostrar o seu carácter e as suas emoções.

Como se sentiu no início da época de plantio?

Como foi para si e para o Godfrey quando se aperceberam da quantidade de milho que se perdeu para a lagarta-do-cartucho-do-milho?

Pode descrever o primeiro dia em que o seu filho pôde lhe ajudar com a colheita?

Quais são os seus sonhos para o futuro da sua machamba?

Muitos.as ouvintes vão identificar-se com estas perguntas - e muito provavelmente com as respostas que a Neema dará. Eles.as vão conhecê-la e vão querer ouvir o que ela tem a dizer sobre as suas experiências agrícolas.

6. Esteja preparo.a para fazer boas perguntas de seguimento

 

Por mais boa que uma pergunta aberta seja, na maioria das vezes a pessoa entrevistada não lhe dará tudo o que você precisa em cada resposta.

Como temos observado, quanto mais específica for a pergunta, mais específica será a resposta. Mas muitas vezes há detalhes deixados de fora, emoções a serem sondadas, explicações a serem dadas.

Você tem de estar preparado.a para fazer perguntas de seguimento. Isso significa que tem de ouvir com muita atenção o que a pessoa entrevistada diz.

É aqui que ter uma linha de questionário preparada com antecedência é tão útil.

Se já tem a próxima grande questão em mente, não precisa de pensar sobre isso. Pode concentrar-se inteiramente na resposta à pergunta anterior - fez sentido? Foi suficientemente longe? Trouxe todos os detalhes? Haverá conteúdo emocional por explorar? Aqui está um exemplo:

Pergunta principal:

Como foi a cultura do milho deste ano, Neema?

Possíveis perguntas de seguimento, dependendo da sua resposta:

Pode comparar com o ano passado?

Porque é que o ano passado foi melhor?

Pode explicar isso?

Como se sentiu após a colheita deste ano?

Fazer perguntas de seguimento não requer somente a escuta, mas também flexibilidade. Você pode ter a sua lista de perguntas no seu bloco de notas ou telefone, mas se a conversa se desviar para uma direcção não planeada, precisa de ter algo a perguntar. Embora o planeamento seja importante, também é importante reagir ao que você está a ouvir.

Por vezes, as perguntas de seguimento têm de desafiar a resposta da pessoa entrevistada. Outras vezes, os seguimentos podem ajudar-lhe a compreender melhor uma resposta complicada. Se não tiver a certeza do que alguém quer dizer, é melhor dizer: “Por favor, explique-me”. Ou “Pode dar-me um exemplo?” Muitas vezes só se consegue uma única oportunidade numa entrevista.

Aqui estão três tácticas para fazer perguntas de seguimento

A. Faça novamente a sua pergunta original, de forma ligeiramente diferente. Não tenha medo de fazer a mesma pergunta duas vezes. Se estiver a entrevistar alguém e a pessoa ou desvia a primeira pergunta ou não dá uma resposta real, pode dizer: “Deixe-me perguntar-lhe isto de outra forma ...”. Isto é eficaz porque avisa a pessoa entrevistada de que você não lhe está a deixar sair do ponto, mas permite que ela fique bem, pelo menos implicando que talvez a sua pergunta inicial não tenha sido suficientemente clara.

Cuidado: Certifique-se de que você realmente muda a maneira de formular esta segunda pergunta, caso contrário pode parecer contraditória. A chave é fazer a pergunta de outra forma, e declarar que o está a fazer.

B. Ligue as respostas da pessoa entrevistada umas às outras através de uma escuta activa.

Uma boa estratégia para compreender o que o.a seu.sua entrevistado.a está a dizer é ligar a sua resposta a algo que ele.a disse anteriormente. Não se trata de tentar apanhar alguém numa mentira, mas sim de ligar os pontos entre as suas respostas. Pode dizer algo como “Oh, isso é como a altura em que ...?” ou, “Era isso o que você queria dizer há pouco quando disse ...? Além de ajudar-lhe a compreender melhor a pessoa, assim você está a dizer que está realmente a ouvir, e na verdade dá uma visão significativa à pessoa ao apontar uma conexão que ela pode não ter visto. Isso permite-lhe sintetizar a informação em vez de a ouvir apenas.

Cuidado: A utilização excessiva disto pode fazer-lhe parecer um.a detective da polícia a tentar apanhar um.a criminoso.a numa mentira e forçar uma confissão. Evite dizer coisas como: “Mas não foi isso o que você disse anteriormente...”. Trata-se mais de sintetizar do que de interrogar.

C. Fazer uma pergunta sobre as implicações da sua resposta.

Quando as pessoas respondem a uma pergunta sem serem particularmente reveladoras, ou dando uma resposta muito “segura”, o que é que se faz? Em vez de aceitar respostas não reveladoras logo de primeira, procure realmente compreender a pessoa através de perguntas sobre as implicações das suas respostas. Por exemplo:

Neema, você disse que a sua machamba é muito organizada e arrumada. O que significa para si ter uma machamba como esta?

Sabemos que a Neema deve trabalhar arduamente na forma como a machamba se apresenta. Isso pode fazer-nos pensar no que ela sacrifica pelo aspecto da machamba.

Uma questão subsequente pode ser a seguinte:

Como você encontra tempo para fazer tudo isto?

Cuidado: Ao fazer perguntas sobre implicações, evite fazer perguntas conducentes. Em vez disso, fique verdadeiramente curioso.a sobre o que a pessoa diz e as implicações da sua resposta.

Existem outras razões para fazer perguntas de seguimento, e estas afectam o tipo de perguntas que irá fazer. Por exemplo, você poderia:

  • Pedir à pessoa entrevistada para esclarecer o significado da sua resposta.
  • Pedir exemplos que ilustrem o ponto que estão a tentar realçar.
  • Perguntar: “O que significa isto para ___?”
  • Levantar uma opinião contrária (por exemplo, “Algumas pessoas dizem que ter uma machamba asseada e ordenada é uma perda de tempo ...”) e perguntar-lhe o que pensam sobre isso.

São as perguntas complementares que fazem de uma boa entrevista uma grande entrevista. As boas perguntas de seguimento proporcionam detalhes ricos, carácter e emoção.

Outros pontos

 

As sugestões acima para fazer melhores perguntas podem ser aplicadas a qualquer entrevista. Ao entrevistar um.a praticante de política, por exemplo, perguntas abertas que são muito específicas tornam mais difícil para essa pessoa afastar-se de uma resposta directa. E caso opte por não responder directamente, o.a entrevistador.a tem uma variedade de opções. Pode dizer “Deixe-me colocar a pergunta de outra forma...” ou perguntar “Porque não responde à pergunta?” É contundente, mas pode ser uma pergunta útil.

É pouco provável que você faça perguntas sobre carácter e emoção a um.a praticante de política ou especialista porque você procura respostas muito específicas. Contudo, políticos.as e especialistas também são pessoas e aprender mais sobre elas como pessoas pode ajudar os.as ouvintes a compreender melhor o que estão a dizer.

Onde mais posso aprender a fazer melhores perguntas?

 

BBC Academy, sem data. Faça perguntas claras e simples de entrevista: Jeremy Paxman. https://rl.talis.com/3/lsbu/items/00BFC3CA-38DA-9642-EE3C-07D097D5D010.html

Davis, Richard, 2014. Tácticas para Fazer Boas Perguntas de Seguimento. https://hbr.org/2014/11/tactics-for-asking-good-follow-up-questions

Farm Radio International, 2017. Entrevista a especialistas: Melhores práticas para locutores.as e especialistas. https://training.farmradio.fm/how-to-interview-experts-best-practices-for-broadcasters-and-experts/

Farm Radio International, 2016. Como Conduzir uma Entrevista Eficaz. https://training.farmradio.fm/how-to-conduct-an-effective-interview/

Halbrooks, Glenn, 2019. Realização de uma boa entrevista televisiva. https://www.thebalancecareers.com/tv-interview-tips-for-news-media-professionals-2315424

MediaCollege.com, sem data. Perguntas Conducentes. https://www.mediacollege.com/journalism/interviews/leading-questions.html

Pizarro, A. G., 2015. Entrevista qualitativa: 3 Erros a Evitar na Formulação de Perguntas. http://simplyeducate.me/2015/02/08/qualitative-interviewing-3-mistakes-to-avoid-in-question-formulation/

Universidade de Columbia, sem data. Princípios de Entrevista. http://www.columbia.edu/itc/journalism/isaacs/edit/MencherIntv1.html

 

 

Agradecimentos

Con Dick Miller, produtor de rádio independente, formador, e ex-produtor de documentários da CBC-Radio, professor na Workshop de Documentário Avançado, Faculdade de Jornalismo da Universidade de King's College.

Este recurso teve apoio da ajuda de uma subvenção da Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit GmbH (GIZ) que implementa o projecto do Centro de Inovação Verde.
This resource was translated thanks to generous Farm Radio International donors.